Poetica

Poética

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Manuel Bandeira


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Poetica

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Fernando Ursine


I am done with the discreet lyricism
The well-behaved lyricism
The public servant-like lyricism with timesheets fixed hours protocols and showing how much they appreciate the mr. big boss

I am done with the lyricism that stops to consult a dictionary for the vernacular nature of a word

Down with purists

All the words, especially the universal barbarisms
All the constructions, especially the exceptions of syntax
All the rhythms, especially the innumerable ones

I am done with this lyricism
flirtatious
political
rickety
syphilitic
With all the lyricism that surrenders to whatever is outside of itself

Besides that, it is not lyricism
It is accounting cosines table secretary of the exemplary lover with a hundred letter templates and the different ways to please women, etc.

I would rather have the lyricism of the lunatics
The lyricism of the drunkards
The lyricism of the drunkards, so difficult and pungent
The lyricism of Shakespeare’s clowns

– I don’t care about the lyricism that is not liberation